quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Árvores descontroladas


Porto Alegre é uma cidade arborizada. Disso não temos dúvida. É uma das qualidades mais difundidas pelos seus orgulhosos cidadãos, observação empurrada a todos os turistas, nacionais ou estrangeiros, que aqui desembarcam, junto com outras características auto-atribuídas e repetidas ad-nauseam como "povo hospitaleiro", "mulheres bonitas", "chimarrão é bom", "melhor Estado do Brasil", "a Cidade Baixa tem a melhor noite do mundo" e outros desvairios bairristas, verdadeiros ou não. Normalmente são feitas na espera de que o pobre coitado concorde, como se fossem ponto pacífico. Nunca vi alguém ousar discordar, mas, se o fizer, acredito que haverá consequências.

Se das árvores que abundam em Porto Alegre não temos dúvida, a minha é simples: precisamos, ou podemos ter, tantas árvores dentro da cidade?
Porque, de onde eu vejo, elas estão totalmente fora de controle. É comum galhos taparem sinaleiras, parcial ou totalmente, quando nos aproximamos delas. E cada vez mais comum são as notícias de estragos causados por grandes galhos ou árvores inteiras que caem por cima de carros e propriedades ao menor sinal de chuva ou vento. E pessoas que, até agora, tem escapado por um fio de serem atingidas pelo madeirame em queda. Ao passear pelos bairros, em muitos locais é difícil ver as fachadas dos prédios. Muitos prédios. Tente apreciar os prédios do bairro Moinhos de Vento. Em algumas ruas, ao olhar para cima, você pode pensar que foi parar numa cena pós-apocalíptica em que a natureza retomou seu lugar, enfurecida.
As podas hoje são tímidas e muito limitadas. Me contaram que houve uma regulamentação por parte da Prefeitura alguns anos atrás que as restringiu significativamente. Taí o resultado, pegaram o gosto e agora querem tomar conta de tudo.
Por que não deixarmos os espaços rurais, arredores e campos para aprecisar as árvores, e os espaços urbanos para serem, digamos, urbanos? A arborização urbana é ótima, dizem, para resfriar o ambiente, diminuir o volume de material particulado (em cerca de 10%, pelo que li) e servir como abafadores de ruído. Mas tudo tem limite, e entupir a cidade de árvores sem poda até o ponto que não se vê mais nada, daí já muda de figura. E interessantes que para algumas pessoas é absurdo tocar nesse assunto, como se fosse algo religioso, sagrado. Tocar nas árvores é pecado, podá-las é algo como um estupro e cortá-las, bom... se você preza sua vida social...
Árvores são legais, mas a capacidade do Homem de criar, construir e fazer o belo também é.

Parece que em Sidney, Austrália, eles sofrem do mesmo problema: Does Sydney have too many trees?

Um exemplo de como houve uma valorização moral da arborização:Porto Alegre tem quase uma árvore por habitante , e com MUITO orgulho, na reportagem, e pelas palavras do Beto Moesch, Secretário Municipal de Meio-Ambiente: "Isso é muito falado, principalmente por pessoas de fora de Porto Alegre, mas não tem como provar. Mas garanto que Porto Alegre é uma das áreas metropolitanas mais arborizadas do mundo. Mas, sendo ou não sendo, tem que ser mais". Claro. Mais. Muito mais. Tipo tarzã, sair para trabalhar de facão, ataques de abelhas, guerrilhas arbóreas... O gajo ainda se orgulha de ter ganhado a queda-de-braço em plantar árvores nos canteiros centrais pois as secretarias de Obras e Transportes não permitiam por causa dos galhos, que atrapalhariam a circulação dos ônibus. Foda-se o urbano.
Por que essa gente não vai morar no mato de uma vez?
Porto Alegre daqui a 10 anos

Um comentário:

  1. Porto Alegre é uma cidade abafada no verão, e a sombra das árvores ajuda a amenizar o calor. Também acho que elas tornam a cidade mais bonita, já que muitos prédios são feios e mal-cuidados.
    No entanto, elas não podem ser um risco às pessoas e ao patrimônio (por mais feio que ele seja). Acho que elas devem ser podadas com mais frequência, o que não acontece.
    Também deveria se usar um plantio mais inteligente de espécies, evitando aquelas que têm uma copa muito espalhada e raízes volumosas, que acabam levantando as calçadas.

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