quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dominique-nique-nique


"Dominique, nique, nique,
Sempre alegre esperando alguém que possa amar.
O seu príncipe encantado,seu eterno namorado
Que não cansa de esperar."

Difícil alguém não conhecer este trecho da música Dominique, a versão brasileira interpretada pela cantora da velha guarda Giane. É a versão que eu conhecia quando criança, e que minha mãe, e provavelmente a de muitos nascidos nos anos 60 e 70, cantava para nós juntamente com outras canções populares. Aliás, acho muito parecida com o tipo de letra de "Terezinha de Jesus", neste link uma interpretação muito boa e triiiste para caramba. Lembro que a maior parte das canções de crianças populares na minha época eram muito tristes, sei lá por quê (vide p.e. "Bate que bate na casinha do beija-flor" e "A canoa virou")



Versão da cantora brasileira Giane


O original francês foi composto por uma freira belga nos anos 60. A versão brasileira conta uma história de amor que termina mal. A original é sobre as peregrinações de São Domingos, o tal Dominique, o fundador da Ordem Dominicana, ou seja, uma música gospel.
Dominique -nique -nique s'en allait tout simplement,
Routier, pauvre et chantant.
En tous chemins, en tous lieux,
Il ne parle que du Bon Dieu,
Il ne parle que du Bon Dieu



Fragmentos de imagens das freiras belgas e curiosidades da época



Agora, o que poucos realmente conhecem é a trágica história de sua criadora Jeanne-Paule Marie Deckers, a Soeur Sourire, ou Sister Smile ou ainda The Singing Nun, como ficou conhecida. Suas músicas faziam tanto sucesso entre os visitantes do monastério na Bélgica onde vivia que acabou gravando um álbum em 1963 que lhe garantiu o primeiro lugar nas paradas dos EUA por 4 semanas e uma aparição no Ed Sullivan Show em 1964. Entretanto a Soeur Sourire nunca mais emplacou um sucesso após Dominique, embora tenha se afastado do mosteiro e tentado a carreira musical "na estrada", gravando um álbum de músicas religiosas e para crianças.


Este vídeo é a última tentativa da Soeur Sourire de reerguer sua carreira musical.

Jeanine Deckers tinha aversão à fama, e provavelmente isso foi decisivo para o fracasso de sua carreira musical que se seguiu. Mas a irmã ainda tinha outra voz que era incomum entre suas semelhantes. Ela passou a criticar abertamente algumas doutrinas católicas e a advogar pró-aborto, fazendo inclusive uma música a esse respeito, ‘La Pilule d’Or’ (..."Glory Be to God for the Golden Pill").
Quase todo o dinheiro que a irmã levantava com seus shows e vendas de discos era enviado para o mosteiro. Quando a fonte secou ela decidiu abrir uma escola para autistas, mas a "malha-fina" a pegou e exigiram os 63 mil dólares de impostos não recolhidos que haviam sido doados sem recibo para o mosteiro. Como as doações não puderam ser provadas, seu abismo financeiro a levou a fechar sua escola para autistas e, em seguida, ao seu suicídio e de sua amiga de anos, Anna Pécher. Bom, ironia divina ou não, naquele mesmo dia de sua morte ela ganharia 300 mil dólares de royalties, o que cobriria com folga todos seus problemas financeiros.
Vai dizer que não é uma merda?

Mais informações sobre a freira cantora (que deu origem até à série Noviça Voadora!) aqui:
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Singing_Nun#Political_views
http://learning2share.blogspot.com/2008/09/singing-nun-dominique-1982.html

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Árvores descontroladas


Porto Alegre é uma cidade arborizada. Disso não temos dúvida. É uma das qualidades mais difundidas pelos seus orgulhosos cidadãos, observação empurrada a todos os turistas, nacionais ou estrangeiros, que aqui desembarcam, junto com outras características auto-atribuídas e repetidas ad-nauseam como "povo hospitaleiro", "mulheres bonitas", "chimarrão é bom", "melhor Estado do Brasil", "a Cidade Baixa tem a melhor noite do mundo" e outros desvairios bairristas, verdadeiros ou não. Normalmente são feitas na espera de que o pobre coitado concorde, como se fossem ponto pacífico. Nunca vi alguém ousar discordar, mas, se o fizer, acredito que haverá consequências.

Se das árvores que abundam em Porto Alegre não temos dúvida, a minha é simples: precisamos, ou podemos ter, tantas árvores dentro da cidade?
Porque, de onde eu vejo, elas estão totalmente fora de controle. É comum galhos taparem sinaleiras, parcial ou totalmente, quando nos aproximamos delas. E cada vez mais comum são as notícias de estragos causados por grandes galhos ou árvores inteiras que caem por cima de carros e propriedades ao menor sinal de chuva ou vento. E pessoas que, até agora, tem escapado por um fio de serem atingidas pelo madeirame em queda. Ao passear pelos bairros, em muitos locais é difícil ver as fachadas dos prédios. Muitos prédios. Tente apreciar os prédios do bairro Moinhos de Vento. Em algumas ruas, ao olhar para cima, você pode pensar que foi parar numa cena pós-apocalíptica em que a natureza retomou seu lugar, enfurecida.
As podas hoje são tímidas e muito limitadas. Me contaram que houve uma regulamentação por parte da Prefeitura alguns anos atrás que as restringiu significativamente. Taí o resultado, pegaram o gosto e agora querem tomar conta de tudo.
Por que não deixarmos os espaços rurais, arredores e campos para aprecisar as árvores, e os espaços urbanos para serem, digamos, urbanos? A arborização urbana é ótima, dizem, para resfriar o ambiente, diminuir o volume de material particulado (em cerca de 10%, pelo que li) e servir como abafadores de ruído. Mas tudo tem limite, e entupir a cidade de árvores sem poda até o ponto que não se vê mais nada, daí já muda de figura. E interessantes que para algumas pessoas é absurdo tocar nesse assunto, como se fosse algo religioso, sagrado. Tocar nas árvores é pecado, podá-las é algo como um estupro e cortá-las, bom... se você preza sua vida social...
Árvores são legais, mas a capacidade do Homem de criar, construir e fazer o belo também é.

Parece que em Sidney, Austrália, eles sofrem do mesmo problema: Does Sydney have too many trees?

Um exemplo de como houve uma valorização moral da arborização:Porto Alegre tem quase uma árvore por habitante , e com MUITO orgulho, na reportagem, e pelas palavras do Beto Moesch, Secretário Municipal de Meio-Ambiente: "Isso é muito falado, principalmente por pessoas de fora de Porto Alegre, mas não tem como provar. Mas garanto que Porto Alegre é uma das áreas metropolitanas mais arborizadas do mundo. Mas, sendo ou não sendo, tem que ser mais". Claro. Mais. Muito mais. Tipo tarzã, sair para trabalhar de facão, ataques de abelhas, guerrilhas arbóreas... O gajo ainda se orgulha de ter ganhado a queda-de-braço em plantar árvores nos canteiros centrais pois as secretarias de Obras e Transportes não permitiam por causa dos galhos, que atrapalhariam a circulação dos ônibus. Foda-se o urbano.
Por que essa gente não vai morar no mato de uma vez?
Porto Alegre daqui a 10 anos

Dramatic cupcake dog

Ok, para quem gostou do dramatic chipmunk... esse aqui me fez rir mais que o "dramatic" original.



(note que o cara de pé rindo parece ter um cabelo engraçado, mas é um enfeite na parede atrás da cabeça dele)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Fanfarrões sádicos

Saiu uma reportagem no Science News sobre um experimento feito com adolescentes bullies, ou, tradução minha, fanfarrões sádicos, e adolescentes normais. O experimento consistia em apresentar imagens de situações acidentais dolorosas com pessoas enquanto o cérebro deles era escaneado.
Bom, o que eu esperaria era que se evidenciaria certa dificuldade de sentir empatia por parte dos bullies, como muitos podem pensar ser o caso de um guri que gosta de espancar e rir de seus coleguinhas, uma espécia mais branda de sociopata. Eu, pelo menos, presumia que só isso justificaria que um estudante pudesse se dedicar diariamente a tornar um inferno a vida de seus colegas menos capazes de se defender.
Mas NÃO. Não é isso. Eles sentem realmente empatia. Estava lá, a área do cérebro associada a dor acusou atividade em ambos os grupos, tanto nos fanfarrões como nos não-fanfarrões.
O que pegou mesmo é que nos bullies outras áreas também acusaram atividade: as de recompensa.
"They do, so to speak, share the pain of others," comentou Jean Decety, da Universidade de Chicago e um dos responsáveis pela pesquisa durante uma palestra "But instead of finding it negative, they enjoy it."
Ou seja, os caras realmente gostam de incomodar. Literalmente. Provavelmente grandes candidatos a sádicos sexuais (nada contra, mas isso explica muita coisa) na vida adulta. Ou não. Mas isso é material para outra pesquisa.
O artigo termina com uma frase do Decety que me deixou uma curiosidade divertida, quando ele comenta que feedback negativo pode não funcionar com adolescentes que sentem prazer com tal abordagem: "If you enjoy it, you do it again,". Como será que isso se encaixará na pedagogia e na forma de tratar esses adolescentes nos colégios, ou mesmo da parte dos pais e psicólogos que os tratarem? Ok, é um único experimento de baixa amostragem, mas me parece bem promissor, espero ver novidades logo.
(não, eu não era um bully nem era atacado por bullies quando criança :P)

http://www.sciencenews.org/view/generic/id/40962/title/Bullies_brains_empathize%2C_but_with_a_twist