Há bons e maus padres...

Cristian Jago fez um vídeo baseado na música "God was never on your side", do Motorhead, e publicou em seu blog no dia 11/09, aniversário do atentado às Torres Gêmeas. O vídeo e a música são ótimos, mas um parágrafo da letra me chama a atenção:

"See ten thousand ministries,

See the holy, righteous dogs,
They claim to heal,
But all they do is steal,
Abuse your faith,
Cheat and rob,"

Isso me lembra os primeiros discursos anti-religião a que fui exposto ainda no colégio, pré-adolescente. O teor não era exatamente ateísta, mas anti-Igreja, pois a religião, segundo seus proclamadores, existia unicamente com o intuito de controlar o povo, não deixá-lo pensar e se submeter ao controle dos governantes. Enfim, que igreja era anti-revolução socialista, algo assim. 

Este argumento escuto até hoje, embora menos enfático, já tendo perdido sua força inicial de grande verdade revolucionária. Mas ainda segue, junto com os argumentos dos padres pedófilos e da igreja evangélica ultra-arrecadatória, como sendo um dos grandes, e muitas vezes único, ponto anti-religião e pró-ateísmo que boa parte dos apologéticos da causa utilizam. E é um ponto importante, admitamos.

Mas, e os bons padres?

E se se soubesse que todos, ou boa parte, dos padres são boas pessoas? Ou que a igreja evangélica se limitasse a pregar e não induzisse seus fiéis a desembolsarem dízimos absurdos? E se fossem simplesmente religião? O que sobraria como argumento para a grande maioria ateísta que levanta a bandeira (politizada?) anti-religião baseada unicamente no fato de que houveram e ainda existem maus atos e péssimas intenções por detrás das batinas e sacolinhas de dízimo? 

Eu imagino que, pelo bom-senso, se o argumento de alguém contra algo é provado errôneo, espera-se que esse alguém mude sua opinião. Não que eu espere bom-senso de uma situação dessa, afinal, ateísmo político é tão dogmático quanto qualquer outra religião. É baseado em fé, não em fatos.

O que vejo é que aqueles ateus e agnósticos que não aceitam a existência de seres divinos como fato sem provas, que não vêem necessidade da hipótese deus na explicação do universo natural, que compreendem o ser humano com o único responsável pelos seus atos e como sendo ele mesmo a única saída da Humanidade, estes acabam tendo suas dúvidas enfiadas no mesmo saco das revoltas adolescentes tardias de tantos outros que se importam apenas com a sua anti-religiosidade, e que invocam o ceticismo e o racionalismo unicamente como ferramenta argumentativa para suportar sua fé pessoal. E apenas quando lhes convém.

(Dica de vídeo do Jeferson Arezon, no Coletivo Ácido Cético: http://coletivoacidocetico.blogspot.com/2009/09/let-sword-of-reason-shine.html )